quarta-feira, abril 19, 2006

O acidente

Já o disse aqui, desde pequena que tenho um medo terrível da morte.
Não da minha, mas da dos meus entes mais próximos, familiares, queridos, daqueles momentos na vida em que tudo muda e nada volta a ser o mesmo.
Por isso, e como uma espécie de terapia, para me mentalizar, nos últimos anos tenho feito um esforço, constante e consciente, de pensar que a morte é a coisa mais natural e inevitável do mundo- afinal, a única coisa comum a TODOS os seres humanos - e que de facto, por ser tao natural e inevitavel, se calhar tem uma altura certa, se calhar quando chega essa altura nao adianta pensar se podia ter sido tres anos depois, porque na verdade tambem podia ter sido tres anos antes, nao interessa, nao adianta, simplesmente tinha de acontecer, agora ou mais tarde, e aconteceu.
Isto é o que tenho feito nos ultimos anos.
Mas, mais uma vez, como milhares de tantas outras, os meus propositos cairam por terra.
Porque quando um jovem de 22 anos, lindo, maior do que a própria vida, nao vai ter a oportunidade de ter filhos, netos, de viajar e conhecer o mundo, de sofrer, de crescer, não pode haver nada de natural nisso. Aliás não pode haver nada de mais revoltante e anti natural.
A morte do Francisco Adam impressionou-me, e não só porque, tal como milhares de pessoas, admirava a sua beleza e energia, achava-o uma força da nautreza, um raio de luz, a única coisa boa numa série incomentável.
Impressionou-me porque conheço uma pessoa muito próxima dele, que adoro e admiro, que deve estar a sofrer horrores e que não merecia nada disto, tal como ninguem proximo a ele ou aos milhares de jovens que morrem nas estradas, nem por um segundo.
Impressionou-me porque, atraves dessa pessoa, sentia que o conhecia, e acompanhei a carreira dele desde que apareceu nos primeiros jornais como quem assiste ao desbrochar de uma flor, passe a cromice mas é verdade.
E impressionou-me porque mais uma vez,e apesar de todos os meus esforços para me convencer do contrário, provou-me que a morte muitas vezes não é algo de inevitável, natural, com um timing e uma altura certas para acontecer
Ás vezes, é simplesemente um trágico e terrível acidente.

segunda-feira, abril 17, 2006

É oficial...

Não sei se já deram por isso... mas já é oficial... abriu "a temporada do bate-couro em inglês macarrónico". Basta dar uma voltinha pelos locais da cidade, do Chiado ou Bairro Alto e miradouros da Graça para constatar tal facto. Do nada, chegam-nos fragmentos de conversas de engate, em "portinglês", cuja profundidade e tom dissimulado do discurso (tipo, não, não, não te quero dar umas dendatinhas, isto é apenas a minha simpatia natural para com o turista e vice-versa) está ao nível dos argumentos pobres de certos filmes porno. Basta uma jovem mais alta que o habitual, apreciadora de descotes, com fraca tolerância à bedida e com ar de quem é muita amiga dos seus amigos para que o rapaz português puxe dos seus galões em lingua inglesa. Basta que ele, o estrangeiro, não tenha um ar de homem das montanhas, tenha um corte de cabelo à maneira e uma atitude freak com garrafa de super-bock debaixo do braço para que o mulherio nacional ganhe logo alma de operador turístico (ali há um bar muito giro, topas?) . Depois, levamo-los a fazer tudo aquilo que o português médio pratica no seu dia-a-dia de Verão. Sobretudo, copos até às tantas e praia por lá tarde. Resultado: no regresso a casa essa gente chega a casa, aos braços dos seus entes queridos, feita lagostas cirrosas. Se ao menos tivessem "put de críme numbar five"

sexta-feira, abril 07, 2006

Hey, you!

Sinto-me como o Tom Cruise no filme Vanilla Sky quando, em pleno sonho, dá por si nas ruas de Nova Iorque mas desertas, sem vivalma. Onde está toda a gente? os meus amigos de adolescência e os outros que ganhei depois, sem esquecer a comunidade bloguista que nos tem honrado pela sua presença? Bem sei que estive uns tempos afastada... mas apenas por motivos técnicos sublinhe-se. Logo, deduz-se, não mereço tal castigo, tal abandono. O número de visitantes continua a bom ritmo, pelo que só posso concluir que a a) ou a malta anda mais acanhada ou atarefeda do que é normal; b) as prosas aqui estampadas não têm sido suficientemente galvanizadoras ao ponto de vos levar a comentar. Se for esse o caso, mil perdões, aceito até de bom grado tópicos de conversa. Só não quero ficar aqui sozinha, eternemente solitária vagueando no ciberespaço. Segunda-feira quero tudo de volta à normalidade! Ouviram?!?!?!

segunda-feira, abril 03, 2006

Receita do Pecado

Vem descobrir o teu espaço
Em mim, em nós dois
Vem de noite ou ao nascer do dia
Tanto faz
Desde que tragas contigo
Um sapatinho de Cinderela
Que me sirva
Serei feliz
Então, qual sereia, soltarei
Os cabelos sobre os ombros
Para te receber...
Traz também uma manta velhinha
Onde possamos estender a nossa paixão
Depositar em cada quadrado de tecido
Um pecado
Tecer em cada fio uma carícia
Que as traças nunca hão-de comer
Despiremos da maçã o caroço
E, em vez dele, inventaremos
Um outro recheio:
Mel, saliva, pétalas de alfazema
Uma pitada de canela, água do mar e baunilha
Misturamos com pós da sorte e já está
Vem...
Que este prazer é para dois

Dedicado a todos aqueles a quem a Primavera começa a fazer das suas... S.