O riso das nossas crianças

Ao contrário de muita gente, não tenho nada a teoria de que "todas as crianças são bonitas". É mentira, há que dizê-lo com coragem, quebremos o tabu. As crianças dos outros tanto podem ser bonitas como feias, tal como acontece com os adultos. Já as nossas crianças, actuais e vindouras, são sempre lindas, mesmo que sejam feias, mas isso deve-se a outras razões. Mas, acima de tudo, as nossas crianças, os filhos da nossa geração de trintinhas, são umas privilegiadas. É que, salvo raras excepções, nós não tivemos pais disponiveis (oferecidos mesmo) para beber copos connosco na adolescência. Nós não tivemos pais que não se incomodassem com a área profissional por nós escolhida. Havia sempre um "ah, que nobre é a profissão de advogado ou médico". O mesmo será dizer que tanto me faz se o meu filho quiser ser bailarino, contabilista, instrutor de musculação ou historiador. Quer dizer, se for bófia, taxista, árbitro ou político fico um pouco desconsalada mas nada que não consiga superar. O certo é que não vou depositar nele a esperança de conquistar em termos profissionais aquilo que não cheguei a atingir. Pronto, confesso, um ordenado maior que o meu era porreiro mas prefiro acreditar que o dinheiro não traz felicidade. Os nossos filhos não serão obrigados a vestir coisas ridículas como jardineiras, suspensórios, mangas e saias em balão. Desde que não ande (muito) roto e enxovalhado tá-se bem. Mais: os nossos filhos não se sentirão na obrigação de casar e/ou ter filhos. Nem mesmo para agradar aos pais.